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23.4.10

Homenagem à minha avó Cileia, falecida em 10 de abril de 2010



Cileia, mamãe, vovozinha, bia, tia Cileia, Dedé, tia Dedé, minha madrinha, dona Cileia... As formas como a chamavam eram várias, mas o que esses nomes representavam era um só sentimento: um enorme carinho.

Carinho que se unia à bondade, à pureza e à alegria que eram suas marcas principais. Mas minha avó Cileia representa muito mais do que qualquer palavra, pois nenhuma delas expressa exatamente a grandeza do seu coração, a luminosidade da sua alma ou os sentimentos contidos no seu riso fácil e gostoso de se ouvir.

Sua bondade era como um piscar de olhos: um ato automático, realizado diariamente, a todo minuto, em qualquer lugar, para qualquer pessoa. Era um ato sobre o qual ela não tinha controle. Era um dinheiro emprestado ali, uma quantia dada ali... Presentes? Nem Papai Noel distribuiu tantos em toda a sua vida. Nunca faltava dinheiro se fosse para ver um sorriso nos lábios de suas filhas, netos, bisneto e demais familiares tão amados.

Família, aliás, era sua razão de viver. Prova disso são suas agendas, escritas ano a ano, como os velhos e bons diários companheiros das adolescentes. Ali estão registrados todos os momentos pelos quais passamos, sejam alegres, tristes, apreensivos e até os rotineiros. Casamentos, separações, nascimentos, aniversários, almoços comemorativos ou não... Tudo está lá, registrado:

“Véspera de Natal. Hoje foi uma noite feliz, com toda a família reunida, como era meu desejo”, escreveu em 24 de dezembro de 2009, naquele que foi seu último Natal em vida.

“Hoje fomos almoçar com Telma. Érica e Wal também foram. Ela fez uma feijoada e estava uma delícia. Cantamos, dançamos. Foi um dia ótimo!”, em 23 de fevereiro de 2009.

“Rafael veio nos buscar para nos levar para Araruama. Ele é um neto maravilhoso!”, em 07 de agosto de 2006.

“Denise e Érica foram para Salvador. Érica estava feliz da vida. É o primeiro período de férias dela. Que Deus as proteja!”, em 12 de abril de 2005.

“Taís mudou-se para Niterói”, em 31 de outubro de 2002.

Pura. Diria que muitas vezes até ingênua. Era difícil para ela ver maldade nas pessoas. Tudo era compreensível, tinha uma razão ou um mal entendido por trás. A pureza de seu coração era tanta que ela não conseguia enxergar as coisas ruins. Que bom! Assim as coisas ruins também não se aproximavam dela. Quem sabe não foi isso que manteve sua bondade e otimismo durante toda sua vida?

Alegria. Ah, a alegria! Festeira, rueira, animada. Tudo era motivo para uma comemoração. “Rafa, faz um rabo de galo aí pra gente”, dizia, referindo-se à uma boa caipirinha preparada pelo neto. “Aproveita Eriquinha, aproveita”, foi sua frase mais famosa durante algum tempo, dita durante as festas, no intuito de fazer Érica comer alguma coisa, pois ela, magrinha, tadinha, era ruim de comer que dava dó... Ao contrário dela, que se fartava nos salgadinhos e docinhos nessas ocasiões. Ultimamente, sua principal diversão era ir ao Plaza. “Telma, preciso ir ao Plaza comprar umas coisas”. Chegava lá, rodava, rodava e saía com uma colher de pau ou um conjunto de copos novos. Ela queria mesmo era sassaricar. Seu último desejo realizado foi conhecer o supermercado Guanabara, aberto há pouco tempo perto de sua casa. Ah, que alegria. Saiu disparada pilotando a cadeira elétrica que eles disponibilizam para os clientes que necessitam. “Devagar mamãe, devagar...”, saía mamãe correndo atrás dela.

Meu avô Paulo era sua principal preocupação. No leito do hospital, sua últimas palavras foram: "Olha, seu pai toma café às 7 da noite e às 10 tem que ser leite. Bem quentinho, hein!! Tem que botar tudo bem pertinho dele e não esquece da colher grande". “Tá bem, mamãe, eu e Denise estamos cuidando dele direitinho, pode ficar descansada”, disse mamãe.

Esta era minha avó. Pura doação. E agora, estou certa de que está lá em cima, rodeada de luz, nos protegendo, nos amparando e querendo nos dizer que está feliz, que está bem, está em paz.

Que Deus a abençõe, Vovozinha.

21.4.10

O livro e as novas tecnologias: uma opinião otimista

A história nos mostra que quando as novas tecnologias chegam, são para ficar. Não há como escolher se a queremos ou não, se vamos permanecer com os velhos métodos ou aderir aos novos, somos invadidos por elas. Podemos, particularmente, escolhermos não usar uma delas, como um telefone celular, por exemplo. Mas não há dúvidas que ele invadiu as nossas vidas, dominando a vida profissional e pessoal, de adultos e de crianças. E até salvando vidas, ao ser usado por um pedreiro que caiu de um precipício em São Paulo para chamar os bombeiros ou por um homem nos escombros do World Trade Center para dar sua localização exata. Então, querendo ou não, vamos ter que usá-lo um dia e até vamos agradecer por conseguirmos localizar um pessoa em algum momento difícil de nossas vidas.

Por isso, ao nos depararmos com essas novidades tecnológicas, não cabe a discussão sobre se elas são boas ou ruins, se substituem ou não tecnologias anteriores, como defende o filósofo estudioso do assunto Pierre Lèvy. Mas sim nos cabe pensar sobre que uso podemos fazer da invenção em questão.

Assim, em face aos iPad, Kindle, Sony Reader e demais aparelhos digitais de leitura que surgem cada vez mais rápida e aprimoradamente, por que pensarmos em se vai ser ou não o fim do livro? Temos que pensar, sim, em que formato vai ter o livro daqui por diante, de que maneira podemos aproveitar tais tecnologias para deixar o livro ainda mais atrativo e como essa nova forma de se transmitir informações vai interagir com a sociedade.

Pensando não como leitora, mas como profissional do mercado, não me assustam as novas perspectivas. A importância do editor, do revisor, do designer gráfico e de todos os demais profissionais que trabalham para a existência de um livro não tem relação direta com o formato no qual o mesmo é produzido. Todos esses trabalhadores continuarão a existir e a desempenhar seu papel fundamental no processo editorial. O surgimento dos computadores e, principalmente, dos softwares de diagramação, como o já obsoleto PageMaker, por exemplo, acabaram sim com os antigos ilustradores que faziam as páginas dos jornais por meio de um trabalho artesanal de corte e colagem de letras, blocos de texto e figuras. Mas também criou novos designers, ou modernizou os que conseguiram se adaptar às novas tecnologias, contribuindo para a evolução do conceito de diagramação existente até então. Assim, o trabalho do diagramador em um jornal sempre existiu e continua a existir, o que mudou foram as ferramentas utilizadas e a forma de se fazer o trabalho.

Por isso, acredito que pensar no fim do livro é uma questão de menor relevância no momento atual. Pode ser que ele acabe sim, da forma como o vemos hoje, e é muito provável que sim. Mas, quando chegar essa hora, talvez já nem nos importemos mais. Ou talvez quem veja esse fim não sejamos nós, mas sim nossos descendentes, já tão acostumados aos novos meios que nem perceberão o fim do livro. Afinal, depois que o aparelho de DVD foi lançado e barateado a ponto de todos poderem adquiri-lo, ninguém lamentou o fim do videocassete... O importante mesmo é que tanto os profissionais do livro como os leitores não ficarão desprovidos do mundo mágico das letras. Com certeza encontraremos diversas maneiras de produzir, vender, garantir direitos autorais e sanar todas as demais preocupações que enchem nossas cabeças atualmente, sem abrir mão desse instrumento transportador de sonhos, ideias, saberes e conhecimento que é o livro.

(texto feito especialmente para o módulo O Negócio do Livro, do curso de pós-graduação A Produção do Livro: do autor ao leitor, e publicado originalmente no blog de mesmo nome)